sábado, 13 de outubro de 2012

Somos o que somos

Gosto de Lis. Logo, logo, percebi que gostava dele/dela, pela forma como se posiciona, como se descreve e descreve os outros. Depois, percebi que havia algo mais; a “leveza”. Lis descreve tudo com uma profunda leveza, como se nada lhe doesse fundo, como se descrevesse outra pessoa, outra vida que não lhe pertencesse e observasse à distância. Fá-lo de forma airosa, quase en passant, deixando, contudo, transparecer sentimentos intensos, profundos, íntimos, de dor cavada. É uma leveza aparente, a sua, mas não forçada. Tudo em Lis é genuíno.
Enquanto pensava nisto apercebi-me que embora todas as pessoas sejam diferentes entre si e, embora haja aspectos comuns a todas elas, também entre os “diferentes” há profundas diferenças, mas há igualmente aspectos que são comuns à diferença e a leveza de Lis é uma delas.
Tantas vezes encaramos as nossas diferenças, quase en passant como se não nos afectassem, gracejamos como se não nos pesasse, como se não mexessem profundamente connosco; como se não tivesse importância nenhuma destoar no meio dos estereótipos.

Todos nós somos um pouco Lis. Talvez uns mais, outros menos, mas todos temos algo daquela indefinição. Há quem a combata com unhas e dentes e, acredito que nem para si próprio a confesse, no entanto é minha convicção que ela existe em todos nós, afectando mais uns do que outros.
Quer-me parecer que uma coisa é a natureza e a essência de cada um de nós, e outra bem distinta, aquilo que se convencionou pertencer a cada um dos géneros. A natureza humana em bruto, sem polimentos, sem as cargas que lhe colocamos em cima, não tem contornos tão definidos quanto os que queremos atribuir a todo o custo a cada sexo.
Todos nós temos um pouco, daquilo que se convencionou pertencer ao sexo oposto. Não sei bem ao certo onde residem algumas fronteiras. Nem sei tão pouco se faz algum sentido querer tê-las assim tão demarcadas, ou tê-las em definitivo. Atribuir-se este ou aquele comportamento, esta ou aquela atitude, este ou aquele gosto a um género é querer contrariar a natureza e a essência de cada pessoa, o que por si só constitui uma profunda violência.
Aquilo que cada pessoa é e aquilo que se convencionou que cada género deve ser são atributos que facilmente se chocam, e se assim é em termos gerais, quando se trata de aspectos associados ao sexo propriamente dito, mais do que ao género, esse choque é brutalmente maior.
Somos geralmente muito céleres a colocar rótulos, a fazer juízos de valor e temos muitas certezas quanto ao que é e ao que não é “normal”.
Tenho muita dificuldade em entender que cada um tenha tantas certezas quanto àquilo que os outros devem ser.
Antes das opções sexuais, dos gostos mais ou menos contrários ao estipulado para cada género, das suas posturas, está um coração, está um ser humano, uma sensibilidade.
Que me importa a mim se Lis não é nem homem, nem mulher, ou é ambas as coisas, se eu gosto das suas atitudes, da sua generosidade, do ser humano que é?
Foram tantas as razões pelas quais senti profunda admiração por Lis.
Lis é coerente, de extrema coerência e coragem.
É tão difícil ser-se coerente. Coerência e sentimentos é uma conciliação tantas vezes quase impossível, é uma batalha constante, obriga a pensar os sentimentos, a julgar as nossas atitudes; chega a ser doloroso.
Lis é um exemplo admirável de um ser humano extraordinário que se revela tal como é.

2 comentários:

  1. "Re-member who u are" Assisti neste verao a construcao humana desta frase. Dizerte que foi epico e muito pouco. Vou tentar sacar a foto e falar um sobre isto.
    E estas tuas leituras sao muito transparentes. Assim nao tens frio?
    O melhor mesmo, e que tudo isto es tu. Toda essa percepcao e pelos TEUS olhos. Escreve, escreve!

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    1. Sim, por favor, gostaria muito.
      Tenho pois, tenho sempre muito frio.
      Tenho andado um tanto arredada de "escrituras", tem-me faltado aquele "it".

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