quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Porque me fogem as palavras

"Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças ?"
Macel Proust

Não vás para tão longe!
Vem sentar-te
Aqui na chaise-longue, ao pé de mim...
Tenho o desejo doido de contar-te
Estas saudades que não tinham fim.

Não vás para tão longe;
Quero ver
Se ainda sabes olhar-me como d'antes,
E se nas tuas mãos acariciantes,
Inda existe o perfume de que eu gosto.

Não vás para tão longe!
Tenho medo
Do silêncio pesado d'esta sala...
Como soluça o vento no arvoredo!
E a tua voz, amor, como se cala!

Não vás para tão longe!
Antigamente,
Era sempre demais o curto espaço
Que havia entre nós dois...
Agora, um embaraço,
Hesitas e depois,
Com um gesto de tédio e de cansaço,
Achas inconveniente
O meu abraço.

Não vás para tão longe!
Fica. Inda é tão cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!

Não vás para tão longe!
Na sombra impenetrada,
Como se agita e se debate o vento!...
Paira nas velhas ruínas do convento

Que além se avista,
A alma melancólica d'um monge
Que a vida arremessou àquela crista...
Céu apagado, negro, pessimista,
E tu sempre mais longe!...

Fernanda de Castro , "Distância"

2 comentários:

  1. As fotos aqui a direita sao muito boas, especialmente as das maos. Crispadas de historias! o poema esta cheio de vontade mas so me lembro da melanolia que e a felicidade em estar triste.
    Va nao te apagues de soleira!

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    1. Adoro mãos. Dizem tanto....
      Vou tentar não torrar mas sem sol não sei sorrir.

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