Diário de uma louca

Ontem, passei o dia a ler e a conversar sobre o amor num sentido lato, como um princípio orientador; sobre as suas possibilidades, manifestações e contornos, opções. Entusiasmei-me, entreguei-me ávida a tudo o que encontrei. Li, reflecti. Vi um caminho. Esqueci o mundo. Abstraí-me da vida. Passeei-me no encanto, na filosofia. Estava feliz, quase eufórica. Por instantes, acreditei. Talvez um dia…as pessoas...o mundo...

Depois, o sol adormecia e o dia foi descendo. Com a noite chegavam também outras vozes. Batiam-me à porta e entravam. Sentaram-se, pediram um café que servi com prazer. A cada trago fui descobrindo o seu propósito. Fui acordando aos safanões. De trambolhão em trambolhão, desiludi-me novamente com os homens, com as revelações que me chegavam sem que eu as procurasse. Foram elas que vieram ao meu encontro, assaltaram-me, espancaram-me com toda a força. Deixaram-me despedaçada, esfarrapada.

Quando fiquei só, chorei com amargura porque afinal nenhum amor parece valer nada.

Hoje estou sem rumo. Baralhada.Tenho o coração partido, a alma doente, dói-me o corpo. O choro não me larga.

Mas resistirei, eu sei, mesmo quando duvido e perco a vontade, porque resisto a tudo. Sou um touro, sempre serei. Nasci para ser combativa, uma guerreira sem tréguas. Morrerei de espada em riste e um sorriso trocista para a morte para que não lhe fiquem dúvidas de que não foi ela que me venceu, mas eu que me deixei vencer.

(Dezembro de 2011)