Ilha

A ilha perdeu um pedaço do seu corpo quando a tua voz se dissipou na neblina. Pegaste na tua vida e abalaste. Para trás deixaste um "sempre" prometido e um vazio que nada perfaz. A ligação que a ilha tem contigo é tão forte e contraditória que, à tua partida, o mar se tornou menos mar. Deita a face alva na areia escura e ali permanece tristonho. As hortênsias são menos abundantes agora. O verde prolonga-se pálido a perder de vista e o sol impacienta-se inconstante. O céu, que reveste a ilha, empalideceu e a noite desliza pesada, esquecida das vestes que tudo pacificavam, da luz que entrava pelas janelas espalhando ternura, aquecendo as noites frias dos cansaços. As estrelas no seu padecimento esquecem-se de entoar cânticos de embalar. E quando o vento sopra é o teu nome que ela escuta, tudo cobrindo, perdurando.

A saudade habita em todas as frechas e frinchas, nos recantos mais escondidos da ilha, impedindo-a de te esquecer, negando-se a deixar partir a tua alma, querendo senti-la em todos os cheiros, todas as músicas, todas as palavras.

Talvez seja um misto de mistério e encantamento que não lhe permite sentir-se de novo inteira. Ou, talvez até seja algo muito mais profundo que nem ela sabe de onde lhe vem. Anseia o teu regresso que tarda, o seu chamento que não te alcança.

A ilha sobra e com ela permanecerão para sempre as memórias, tantas, que lhe ficaram na pele.

A ilha sou eu e abraço-te com todas as minhas forças quando me encosto a ti e adormeço.