"É como se passássemos o tempo a contar o que não vivemos, como se o silêncio fosse feito de palavras que não terminam.
De súbito, vem um clarão rente à passagem das águas para me dizer. E logo depois uns passos na casa, um andar leve abeirando-se.
Alguém me procura, me tenta identificar, quase me toca, através da brecha que a noite franqueou.
Vivo desta maneira e sei que não pode haver maior felicidade.
Sinto o permanente recomeçar das lembranças perpassando nos quartos, como se continuassem habitados com as camas desfeitas dos corpos que nelas dormiram, mas nem assim perco de vista o olhar que me segue.
Reencontrámo-nos e decidimos não voltar a separar-nos. Antes tinha havido uma vez em que nos deixámos perder. E vieram anos em que os rios secaram de tanto correrem sob o negrume impossível de atravessar.
Agora, há um mundo instalado na respiração da cidade. Sons que nascem. Vozes que adquirem sentido e se prolongam na loucura infinita de quem observa. Há o tempo sem fim à nossa espera, como um animal ressurgido do fogo que o vento ergue. "
Eduardo Brum
O reencontro é sempre uma renovação. de seiva, revigora e recomeça.É um mundo instalado a afastar a dispneia das malquerenças.
ResponderEliminarLindo post.