quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Amélia

Uma mulher sozinha que já não tem nada a perder. É assim que vejo Amélia. Amélia dos olhos tristes. Vagos, num desamparo imenso. Profundo. Caminha com andar lento, carregado de anos, de tristeza. São os pés que a conduzem porque a Amélia segue ausente. Sapatos gastos, roupa velha, amarrotada como ela. Sobe a rua, salpicada de nódoas num desleixo que não vê. Cabelo desalinhado, desinteressado da vida. Ninguém a espera e ela já não espera por ninguém. Sabe que não virão. Cada qual seguiu seu caminho. Ninguém quis saber desta mulher que viveu à sombra dos que partiram agora. Nada lhe resta. Nem o cão que deixei de ver no quintal. A companhia que sobrava quando punha a chave à porta do casarão degradado e sujo, pejado de vazios e quartos desabitados.

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