segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

"Quando uns olhos nos olham, é impossível saber o que pensam no momento preciso em que nos olham. Podem ter receio do que faremos ou diremos, podem engendrar ideias acerca de quem somos, podem imaginar que já nos viram em algum lado, podem desejar conhecer-nos ou até arrepender-se de nos terem olhado.
Pode acontecer tanta coisa no instante em que uns olhos nos olham. Pode haver amor ou haver ódio, pode haver atração ou haver repulsa, pode haver dúvida ou haver surpresa.
Quando uns olhos nos olham, o mistério é não haver indiferença. Quem nos olha fá-lo em busca de algo, por breve ou insignificante que seja. Até o pode fazer por distração e, porventura, sentir culpa no momento de nos olhar, como se o fizesse por atrevimento ou por guindar o muro de um segredo.
Mas os olhos também servem para pedir, quando o pedido não consegue subir do coração, quando não tem força para dizer à boca que o formule. Essas são as ocasiões em que os olhos se tornam sobreviventes e nada lhes falta para falar e discorrer sobre o tempo imenso da alma submersa. É quando os olhos pedem que o olhar encontra o seu verdadeiro momento de nascer.
São os olhos, afinal, que nos guiam por toda a parte. São os olhos que adivinham e são os olhos os primeiros a fugir quando a coragem tarda em comparecer. São os olhos que guardam o nome, são os olhos que testemunham, são os olhos que se fecham quando a morte decide vir pé ante pé na direção da nossa mente reclinada. " 

 Eduardo Brum

1 comentário:

  1. Maravilha de texto...que aprofundadas considerações faz...
    Os olhos: vitrines por onde a alma deixa por instantes de gerir nossos corpos e vem espiar o estranho mundo exterior...

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