domingo, 28 de outubro de 2012

José Agostinho Baptista

Lugares houve em que um homem se sentava pelo tempo fora,
de frente para a amada.
E ela dançava,
e era como uma luz sumptuosa multiplicada sobre os lustres,
sobre as jóias.
As labaredas irrompiam dos dedos sonhadores.
As agulhas teciam uma túnica de sinuosas deambulações.
Hoje, ela volta-se para dentro, para as rochas húmidas, num trabalho
de insânias alfaias.
Dispersa-se.
Apenas o deserto ou a noite devolverão a inocência,
o clamor das giestas novas.

in Paixão e Cinzas

5 comentários:

  1. Este é o género de poesia que me faz crescer água na boca...

    "Hoje, ela volta-se para dentro, para as rochas húmidas, num trabalho
    de insânias alfaias.
    Dispersa-se.
    Apenas o deserto ou a noite devolverão a inocência,
    o clamor das giestas novas."

    ÉS TU!

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    1. Pois sou, c'um caneco! Não tinha pensado nisso.
      Tenho tanto para pensar. As coisas que escreves, aquele post do P, deixam-me a cabeça aos pulos e começo a descobrir que afinal até tenho motivos para gostar de mim. Não era eu que andava aos baldões por entre gente que cada vez se distânciava mais de mim. Era eu que crescia e elas não. E é bom crescer. E é bom saber que sou um espírito livre, é bom saber que não me importo nada de não me importar com o instituído. Importo-me com olhares, corações, "sentires", sem cor, sexo, género.
      Disse-te que gostava de Lévinas. Na verdade, não me ensinou nada em termos de essência. Não foi mérito meu, nasci assim. O que ele fez e foi importante para mim, foi sistematizar e colocar em palavras o que eu sentia, sem o saber expressar.
      Eduardo Brum é também um filósofo, digo eu, porque com a sua escrita vai ao encontro do que eu buscava sem saber para me encontrar.
      Ena, tanta gente palpável que tenho à minha volta e cujas palavras digiro para me encontrar.
      Falarei em breve do "Não há retorno possível".
      Beijinhos e abraços. Temos muito que falar, tu e eu.

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  2. Lagartixa, aqui estou como porta letras de mim mesmo, só para te dizer que é incrível não teres percebido ainda como és grande, na tua humanidade, no teu
    amor represado pelos seres que contigo fazem tua periferia...
    De fato, não há retorno possível...mas isto para todo mundo, não para alguns apenas.Fomos concebidos, nascemos nosso corpo obedecendo ao espírito que o habita vai exercendo sua cota de erros e acrtos, tolerados ou não, mas somos humanos.
    Bejokas
    Sergio

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    1. Ah Grande Olho Vivo, Sérgio, lindo Sérgio. Tu sabes que eu gosto de ti. Gosto mesmo. Gosto quando me puxas pela manga da camisa e me dizes que não me posso ausentar assim. Gosto da tua sabedoria de vida, dos emails que me mandas e que vejo todinhos e a que vou responder um por um.
      Tens razão, somos humanos. Temos que errar para ser humanos, não é? E só errando somos cada vez mais humanos. Só tenho medo de errar quando alguém é afectado pelos meus erros. Esse é o não retorno que magoa.
      Admiro as pessoas como tu que vivem no meio da tristeza e da dor dos outros e não se deixam empedernir.
      Bejokas,
      d'eu

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    2. Eu escrevo com um dedo indicador esquerdo; quando acabei minha mensagem olhei pro monitor e nada...Quero dizer-te que meu e-mail está no DISCLAIMER da CASA, bem visível...podes me mandar um e-mail e estabelecemos contacto.
      Não me agradam face, orkut etc...muita exposição
      Beijokas
      Sergio

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