segunda-feira, 22 de outubro de 2012




4 comentários:

  1. Olá, Lagartixa:

    Está imagem, aquela parte em que vem um velho a sair, vestido com casaco ou Kispo branco, não importa, faz-me lembrar o meu pai. O meu pai já morreu. Sofreu vários A.V.C e ficou a vegetar durante alguns anos. Já escrevi muito sobre ele. Morreu numa cama branca e eu não estava lá. Quando o vi, no outro dia, tinha sangue num lábio. Antes de ele morrer, sempre que chegava ao pé dele, cheirava a roupa lavada e tinha os olhos mais transparentes e brilhantes do que o cristal. Olhava para mim e não dizia nada. Só olhava, olhava e depois era no infinito que se lhe perdia o olhar...
    O branco traz-me sempre tanta coisa à memória...

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  2. Todas as palavras são brancas. Cada um de nós é que as pinta de uma cor.
    Todas as palavras são imagens que guardamos dentro de nós, às vezes, sem nome para lhes dar, até que chegue uma palavra que lhe atribui um nome, um sentimento colorido.
    O branco tem um cheiro para cada um de nós.

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  3. Sim, todas as palavras são brancas. Eu sei! Mas, quando falo dos meus pais, o branco torna-se cristalino. Tenho tantas saudades deles! Quando vou ao cemitério, deixo-lhe conchas, pedras e outras coisas insignificantes. Eu sei que é isso que eles querem...

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    Respostas
    1. Será o branco cristalino a cor da saudade? Sim, tem que ser.
      Tenho muitas saudades da minha mãe, mas sabes, nunca vou ao cemitério porque não é lá que a encontro, não foi lá que a deixei. Ela ficou nas músicas, na sua aliança que costumo usar porque ela nunca a tirava e nos lenços que ainda hoje mantêm o seu cheiro que me chega quando os ponho ao pescoço.

      Saudades
      Lembraste Mãe, quando nos metíamos no carro e seguíamos estrada fora, sem destino, só nós as duas, ao som de Wagner? Às vezes conversávamos, outras bastava-nos o silêncio. Tenho tantas saudades....
      Queria voltar a pôr a cabeça no teu colo e ficar ali a sentir as tuas festas no meu cabelo. Ainda me lembro tão bem das tuas mãos e do teu cheiro.
      Sabes o que faço ainda hoje? Quando o borreguinho está nervoso ou assustado, encho-lhe os bolsos de beijos ou dou-lhe um objecto meu, pequenino, para que guarde no bolso, como tu fazias e eu levava sempre comigo quando tinha medo. Quando a aflição me atacava, eu, discretamente, agarrava naquilo que me tinhas dado e apertava com força na minha mão. Às vezes davas-me um lenço teu, com o teu cheiro, que eu levava ao pescoço e era quase como se estivesses ali comigo.
      Antes de morrer não me deixaste nada para agarrar, nem me encheste os bolsos de beijos, mas ainda tenho os teus lenços.
      O pai deu-me a tua aliança e ainda hoje a uso; uso-a sempre...

      (2010)

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