"Como consegues
caminhar com os pés descalços sobre as águas dos esgotos
esgravatar os restos de comida no meio do lixo
dar o seio murcho ao filho que vai morrer
abrir as pernas à violência do bêbado
beber a água que a terra não quis
sobreviver à febre picada na pele
comer o peixe coberto de moscas
dançar as mágoas na areia da praia
à lua cheia
limpar as ramelas dos filhos com o teu próprio cuspo
lavar a roupa sem água limpa
fazer-te bonita sem a magia do espelho
catar os piolhos nos cabelos dos outros
dar força aos mais velhos na caminhada
dormir num chão de baratas e ratos
parir um filho por ano
enterrar as pernas das crianças que saltam nas minas
saciar a fome dos mais novos nos teus seios
transportar tanto peso na cabeça
esboçar um sorriso quando te pergunto o preço das mangas
abre-me os olhos, mulher, explica-me como consegues
porque há dias em que sou eu que não aguento."
luísa COELHO
caminhar com os pés descalços sobre as águas dos esgotos
esgravatar os restos de comida no meio do lixo
dar o seio murcho ao filho que vai morrer
abrir as pernas à violência do bêbado
beber a água que a terra não quis
sobreviver à febre picada na pele
comer o peixe coberto de moscas
dançar as mágoas na areia da praia
à lua cheia
limpar as ramelas dos filhos com o teu próprio cuspo
lavar a roupa sem água limpa
fazer-te bonita sem a magia do espelho
catar os piolhos nos cabelos dos outros
dar força aos mais velhos na caminhada
dormir num chão de baratas e ratos
parir um filho por ano
enterrar as pernas das crianças que saltam nas minas
saciar a fome dos mais novos nos teus seios
transportar tanto peso na cabeça
esboçar um sorriso quando te pergunto o preço das mangas
abre-me os olhos, mulher, explica-me como consegues
porque há dias em que sou eu que não aguento."
luísa COELHO
Sem comentários:
Enviar um comentário