quarta-feira, 20 de junho de 2012

Onde jazem os tesouros

Pegou na pequena caixa de cartão e colocou-a na mala. Entrou no carro e dirigiu-se à praia. Escolheu cuidadosamente a hora para que pudesse estar sozinha. Sentou-se na areia. Começava a anoitecer mas não fazia frio. Pegou na caixa. Haviam-lhe colocado um elástico em volta, traçado o destinatário e colado uma etiqueta com a indicação “Objecto não reclamado. Devolver ao remetente.”
Segurava-a com ambas as mãos, fechada, tal como regressara. Contemplou-a por instantes. Não se recordava já com precisão o que havia escrito no bilhete que acompanhava o que lá colocara. Tinham passado muitos anos. Pensou abri-la, contudo, acabou por decidir não fazê-lo. Entregá-la-ia ao mar assim como estava. Tal como deveria ter sido entregue no seu destinatário.
Levantou-se, desceu até à beira-mar e lançou-a para tão longe quanto pôde. Finalmente o seu tesouro fora entregue. Permaneceria no fundo do mar onde jazem com toda a certeza tantos outros tesouros que talvez também carregassem, tal como aquele, uma história e tantas emoções que se perderam num destino nunca alcançado, que talvez também tivessem perdido, com o tempo, o momento exacto que lhes conferia um significado que se extraviara.

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