terça-feira, 15 de julho de 2014

Diário de uma louca


Despedira-se.
Esgotadas todas as possibilidades, nada restava. Nada poderia fazer, nada mais havia para dizer. Definitivamente era o fim. Teria que ser o fim. Tentara que aquele fim fosse outro fim. Fracassara redondamente. Gastas as alternativas, gastas as palavras, gastas as dúvidas e, acima de tudo, gasta a energia e a vontade... a paciência, talvez!
Não poderia lutar mais contra a corrente, sentia que não saía do mesmo lugar. Tentara uma e outra e outra vez, nada acontecia. Fosse qual fosse a abordagem, a resposta era sempre a mesma: chegava seca, fria, insensível, quando chegava. A maior parte das vezes não chegava nada. A última fora decisiva. Absurda! Não conseguira entender se era a frieza, gélida, assustadora ou a infantilidade que ditaram as últimas palavras. Fosse como fosse pararia por aqui.
Durante muito tempo mantivera-se na dúvida e fora justamente a dúvida que a fizera persistir. Sem quaisquer incertezas agora, chegara o momento de tomar outro rumo. Colocar naquela história um ponto final. Aquilo que evitara fazer, que se negara a fazer. Sentia, por isso, uma profunda frustração, uma enorme impotência e isso consumia-a, irritava-a, revoltava-a ao ponto de a deixar com uma incontrolável vontade de se insurgir, de gritar. Poucas vezes lhe acontecia ter vontade de gritar, contudo, a sensação clara e nítida de que as suas palavras não encontravam qualquer eco, como se falasse para o vazio, causaram-lhe uma necessidade quase absoluta de teimar em repetir vezes e vezes sem conta até ser ouvida, até que sentisse que a escutavam, numa insistência despropositada e sem sentido. Poucas coisas abalavam tanto a sua calma como aquilo.
Era o reviver de um passado que até então não esquecera, que não lhe era indiferente. Era rever a mesma história, o mesmo argumento, mudando-lhe apenas os protagonistas. Era sentir-se desprezada. Sentia que ser votada à ignorância era a pior das ofensas pelas quais poderia passar. Desta vez, a violência fazia-se sentir ainda mais pesada por ser inesperada. Fora apanhada desprevenida. Totalmente desarmada, sem defesas. Nunca baixava a guarda e justamente no momento em que o fizera, o golpe surgira forte e certeiro.
Muitas músicas jamais teriam o mesmo encanto, passariam agora a trazer sempre consigo uma recordação amarga. Havia palavras que não queria pronunciar nem ouvir.
Despedira-se! Se nada resultara é porque não estava destinado a resultar! Esta seria a sua verdade daqui em diante.

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