Despedira-se.
Esgotadas todas as possibilidades,
nada restava. Nada poderia fazer, nada mais havia para dizer. Definitivamente
era o fim. Teria que ser o fim. Tentara que aquele fim fosse outro fim.
Fracassara redondamente. Gastas as alternativas, gastas as palavras, gastas as
dúvidas e, acima de tudo, gasta a energia e a vontade... a paciência, talvez!
Não poderia lutar mais contra a
corrente, sentia que não saía do mesmo lugar. Tentara uma e outra e outra vez,
nada acontecia. Fosse qual fosse a abordagem, a resposta era sempre a mesma:
chegava seca, fria, insensível, quando chegava. A maior parte das vezes não
chegava nada. A última fora decisiva. Absurda! Não conseguira entender se era a
frieza, gélida, assustadora ou a infantilidade que ditaram as últimas palavras.
Fosse como fosse pararia por aqui.
Durante muito tempo mantivera-se na
dúvida e fora justamente a dúvida que a fizera persistir. Sem quaisquer
incertezas agora, chegara o momento de tomar outro rumo. Colocar naquela
história um ponto final. Aquilo que evitara fazer, que se negara a fazer.
Sentia, por isso, uma profunda frustração, uma enorme impotência e isso
consumia-a, irritava-a, revoltava-a ao ponto de a deixar com uma incontrolável
vontade de se insurgir, de gritar. Poucas vezes lhe acontecia ter vontade de
gritar, contudo, a sensação clara e nítida de que as suas palavras não
encontravam qualquer eco, como se falasse para o vazio, causaram-lhe uma
necessidade quase absoluta de teimar em repetir vezes e vezes sem conta até ser
ouvida, até que sentisse que a escutavam, numa insistência despropositada e sem
sentido. Poucas coisas abalavam tanto a sua calma como aquilo.
Era o reviver de um passado que até
então não esquecera, que não lhe era indiferente. Era rever a mesma história, o
mesmo argumento, mudando-lhe apenas os protagonistas. Era sentir-se desprezada.
Sentia que ser votada à ignorância era a pior das ofensas pelas quais poderia
passar. Desta vez, a violência fazia-se sentir ainda mais pesada por ser
inesperada. Fora apanhada desprevenida. Totalmente desarmada, sem defesas.
Nunca baixava a guarda e justamente no momento em que o fizera, o golpe surgira
forte e certeiro.
Muitas músicas jamais teriam o
mesmo encanto, passariam agora a trazer sempre consigo uma recordação amarga.
Havia palavras que não queria pronunciar nem ouvir.
Despedira-se! Se nada resultara é
porque não estava destinado a resultar! Esta seria a sua verdade daqui em diante.
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