sábado, 17 de setembro de 2011

Diário de uma louca

Olhei para as minhas mãos e encontrei-as carregadas de tempo, envelhecidas. Talvez se tivessem passado anos sem que reparasse nelas. Notei-lhes os sinais tão dolorosamente visíveis; as veias, salientes, traçam caminhos de azul; a carne mirrada, a pele engelhada em pregas e sulcos, rendilhada. O que vejo são as mãos de uma velha. Olho para os braços e descubro-os flácidos. O umbigo. O meu umbigo que era perfeito, tão orgulhosamente redondinho, desenhado a compasso, perdeu já a forma, amoleceu, tal como eu.
Envelheci. Céus, envelheci tanto…tão de repente.
Começo talvez a não fazer falta, por isso pude envelhecer. A natureza foi-me poupando, passando ao de leve sobre mim como se soubesse que eu era imprescindível; que tinha que me conservar. Deixou-me permanecer rija, resistente aos anos, às intempéries, combativa e inabalável, fresca e viçosa, enquanto foi preciso. Mostra-me agora com cansaços e debilidades, pregas e rugas e sulcos que não me esqueceu, que chegou o momento de me ver, de me tocar.

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