Sabes, ontem, enquanto eu estava no teu colo, o meu coração esteve desassossegado, durante todo aquele bocadinho. Saltitou, deu cambalhotas, não parava. Reparaste como de vez em quando eu ficava um pouco ofegante? Era ele, o doido do meu coração que insistia e insistia em estar feliz. Depois, quando se aproximou o momento de irmos embora começou a querer choramingar. Eu dizia-lhe baixinho, para não te interromper: "Pára! Por favor pára, assim vais fazer-me chorar também e eu não quero chorar. Haveremos de voltar. Um dia voltaremos. Agora, por favor, sossega". Já em casa não foi fácil pô-lo a dormir. Por fim, acabou por adormecer, vencido pelo cansaço mas esteve irrequieto toda a noite. Por várias vezes me acordou, pediu-me que acendesse a luz e a deixasse acesa. "Escuta Homem", dizia-lhe eu sem saber já como acalmá-lo, "há coisas que tu não podes ainda perceber por seres pequenino, quase recém-nascido, mas um dia talvez compreendas".
Eu sabia que o meu argumento era pobre e sabia também que me faltava convicção, mas prossegui. "Ninguém tem culpa. Nós não podemos mandar no nosso coração. Aquele coração fez a sua escolha e eu não te sei explicar mais do que isto. Os corações são assim...." . Ao dizer-lhe isto recordei-me de um menino que há uns anos pediu à Fada dos Dentes que lhe trouxesse umas asas porque o seu sonho era voar. A mãe aflita tentava explicar-lhe que talvez a Fada não pudesse dar-lhe umas asas. O menino, que teria os seus 5 anos, argumentava: "Traz mãe. Vais ver que ela traz. Ela é uma Fada e as Fadas realizam os desejos dos meninos. Eu quero voar. Amanhã, quando eu acordar, vais ver que debaixo da minha almofada ela deixou as minhas asas e eu vou poder voar". Nenhum dos argumentos da mãe o convenceu e no dia seguinte, o menino desdentado, chorou amargamente sem compreender por que razão a Fada não concretizara o seu desejo. Eu sentia a mesma impotência que aquela mãe deve ter sentido. Como se explica a um coração ainda tão pequenino que ele não é o mais desejado do mundo? Não há forma de o fazer. Meti os pés pelas mãos...e ele olhava para mim, com aquele olhar incrédulo que só os corações têm, e acabou por me dizer: "Está bem, vou dormir agora." Eu sabia que não estava nada bem. Sei que ele apenas percebeu como eu também me sentia perdida e sentiu a minha impaciência. Resolveu deixar-me em paz. Então, lá ficámos ainda por mais um bocadinho os dois, em silêncio, aninhadinhos, e acabámos por adormecer de luz acesa.
Eu sabia que o meu argumento era pobre e sabia também que me faltava convicção, mas prossegui. "Ninguém tem culpa. Nós não podemos mandar no nosso coração. Aquele coração fez a sua escolha e eu não te sei explicar mais do que isto. Os corações são assim...." . Ao dizer-lhe isto recordei-me de um menino que há uns anos pediu à Fada dos Dentes que lhe trouxesse umas asas porque o seu sonho era voar. A mãe aflita tentava explicar-lhe que talvez a Fada não pudesse dar-lhe umas asas. O menino, que teria os seus 5 anos, argumentava: "Traz mãe. Vais ver que ela traz. Ela é uma Fada e as Fadas realizam os desejos dos meninos. Eu quero voar. Amanhã, quando eu acordar, vais ver que debaixo da minha almofada ela deixou as minhas asas e eu vou poder voar". Nenhum dos argumentos da mãe o convenceu e no dia seguinte, o menino desdentado, chorou amargamente sem compreender por que razão a Fada não concretizara o seu desejo. Eu sentia a mesma impotência que aquela mãe deve ter sentido. Como se explica a um coração ainda tão pequenino que ele não é o mais desejado do mundo? Não há forma de o fazer. Meti os pés pelas mãos...e ele olhava para mim, com aquele olhar incrédulo que só os corações têm, e acabou por me dizer: "Está bem, vou dormir agora." Eu sabia que não estava nada bem. Sei que ele apenas percebeu como eu também me sentia perdida e sentiu a minha impaciência. Resolveu deixar-me em paz. Então, lá ficámos ainda por mais um bocadinho os dois, em silêncio, aninhadinhos, e acabámos por adormecer de luz acesa.
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