Amou, ou julgou, uma vez, uma apenas. Um amor que o tempo esboroou tão depressa que as luas mal puderam revezar-se. Caiu nas horas desviadas. Na corrida dos instantes mal vividos. Nos beijos ausentes no extravio dos dias. Consumiu-se em verdades encobertas no encanto das palavras, em vultos imprecisos que não pôde divisar na cegueira da candura, na inocência da certeza.
Foi num Outono brando, fulgente, com a graciosidade de uma Primavera doce e breve, lançando pólens ao vento de um destino incerto das estações fora de tempo.
Derramaram-se, depois, em pranto desbotado as alegrias que salpicavam com cores de encanto e amor as suas asas de borboleta esquecida no desencontro da vida.
Amarfanhadas, na palidez do Inverno, de águas incessantes e céus rastejantes, de negro carregados, desfizeram-se-lhe as asas no díluvio, arrastando o amor na sua morte. O derradeiro amor. Sobrou um corpo de lagarta, pardo, amputado, de olhos atentos e coração vedado. Porque sem asas não se voa e não se ama.
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