terça-feira, 27 de março de 2012

Gosto do seu olhar terno

Desenrolou o seu metro e oitenta e tal detrás da secretária e dirigiu-se para a porta deslocando, sem pressas, com passos decididos, o seu corpo magro que a bata branca disfarçava. Com a mão esquerda segurou o manípulo da porta. Imobilizou-se por instantes. Parecia hesitante. Fixou-me, muito sério, em silêncio, com um olhar azul e meigo quase escondido nas lentes grossas. Eu permaneci parada à sua frente esperando que me a abrisse, tentando descortinar os seus pensamentos. Finalmente decidiu-se. Ergueu a mão direita e com a palma deu-me pancada seca, de reprimenda, na testa. Tentou manter a expressão de censura com que me olhava mas acabou por deixar escapar um sorriso traiçoeiro. Não sei se por se sentir feliz consigo próprio por tenho ganho coragem para tal proeza, se por me ver sorrir. Abriu a porta, e antes que eu pudesse sair, enquanto me apertava a mão, dizia-me no tom terno que o caracteriza:
- Tenha juízo, por favor. Porte-se bem. Quero-a cá em breve com os exames feitos.
Fez-me uma festa na cabeça e ficou no corredor a observar-me enquanto eu me afastava.

Sem comentários:

Enviar um comentário