Deambulo pela cidade no vazio que carrego quando todas as vozes se somem num silêncio que ensurdece. Cruzo ruas e mais ruas, ruelas, becos e caminho cega. Procuro escapar do esquecimento que virá. Quase correndo, não me detenho, vou seguindo sempre e sempre como quem anseia um destino que o aguarda. Um destino que não levo. Corto o ar no alvoroço que tenho dentro, derrubo os ruídos que não oiço, atropelo as pedras do chão que mal toco. E sigo. Não posso parar. Não cedo ao impulso de gritar a revolta. Jamais contarei o que me atira para as ruas. Calo o que me compele no regresso a casa. Entro apenas, cansada dos rugidos mudos que soltei nas passadas apressadas. E retomo a vida. Não me conhecem, nada sabem de mim, o que trago por dentro, como perduro no desamparo que se abate sobre as noites para me cobrir de negro.
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