Galopa, mulher, apressa-te. Vai. Salta para a garoupa e atiça a besta. Espicaça-a. Carrega-lhe as esporas até que a carne rasgue. Que na dor espezinhe sem piedade todas as palavras largando um rasto de sangue.
Vai, mulher, parte agora, que este é o momento. Todas as horas são mortas. O céu empesta-se de negro. Tudo é cinza em teu redor. É chegado o tempo de vingar a revolta que não virá. É o tempo dos paradoxos, do desapego, de todas sombras desfeitas, das quimeras estraçalhadas.
Fá-lo correr, veloz, não o deixes parar. Açoita-o, zurze-o, mais e mais, com as forças que te sobram nas mãos secas e trémulas. Cavalga desenfreada, galga penedos, corta arvoredos, trilha riachos fétidos de águas podres e segue, segue sempre. Estafa-o, esfalfa-o até à morte, mas vai, vai, que é já tarde. Corre, corre enquanto podes.
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