Já me aconteceu esquecer-me do som da minha voz. Um dia destes ouvi-me rir. Não sei onde diabo tinha deixado as gargalhadas. Devo tê-las guardado no lugar do silêncio, que raio de distracção. Só notei a sua falta quando dei por mim escangalhada, a rebolar-me de divertimento, no meio de risos, parecia que me faziam cócegas nos joelhos. Aí percebi que há muitos dias não as ouvia. Tinha-me esquecido delas. E as sonsas deixaram-se ficar, sossegadas, sem dizer nada. Sabiam muito bem que ali não era o seu lugar mas ficaram caladinhas. Na certa tentavam passar despercebidas. Aposto que esfregavam as mãos de contentamento, achando que talvez tão cedo eu não desse pelo engano. Espertinhas. Não sei que diabo lhes passou pela cabeça. Por muito distraída que por vezes seja, mais tarde ou mais cedo, daria com elas. Está visto que não me conhecem nem um bocadinho. Ao fim de tantos anos já deveriam saber que um dia destes me desmancharia a rir.
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