Começava o frio, os dias cinzentos e ela encolhia-se e encolhia-se. Ficava infeliz. Cinzenta também. Não gostava do Inverno. Se pudesse enfiava-se no seu buraquinho, quentinho. Hibernava, enroscada. Dormia. Só começava a espreguiçar-se quando o verde enchesse tudo.
Foi no Inverno que ficou doente. Chovia e chovia sem parar. Todos os malditos dias chovia. Sempre escuro. Uma semana e outra e outra. Fazia um frio de rachar. Ou talvez ela não consguisse aquecer. Um dia não saiu, e outro também não, nem no outro, nem no outro a seguir. Fechou-se dentro de si, sem querer ver a chuva, os dias carregados que pesavam tanto e não passavam. Eram de chumbo. Fugia das pessoas, da rua, do ar. Não se lembrava das horas nesse tempo, recordava só que se arrastavam, que tinha uma dor que sufocava, não a deixava respirar, nem sossegar, nem dormir, nada. Os dias eram aquilo, e só aquilo, sem descanso. Andava desvairada pela casa, para trás e para a frente, para trás e para a frente, sem parar, sem conseguir travar aquela agitação. Só sossegava quando o gaiato estava perto.
Esqueceu-se de tudo desse tempo. Lembra-se que um dia foi à janela e quis saltar. Não era ela que estava ali. Era aquela dor que a empurrava, a consumia.
Esqueceu-se de tudo desse tempo. Lembra-se que um dia foi à janela e quis saltar. Não era ela que estava ali. Era aquela dor que a empurrava, a consumia.
Depois, o Inverno passou e ela serenou. Na Primavera começou a sorrir novamente e seguia agora sorridente. Mas carrega quase sempre uns laivos da tristeza que aquele Inverno lhe deixou.
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