Havia tempo já que algo a incomodava. Uma angustia que surgia pouco depois de se levantar e que se ia esbatendo à medida que o dia avançava. Logo, nos primeiros dias, não percebera o que a deixava assim frágil e com uma profunda tristeza que crescia com a entrada no banho e a acompanhava durante horas até começar gradualmente a suavizar-se. Depois, o resto do dia decorria como habitualmente, dentro do que era o seu habitualmente há algum tempo.
Ná véspera dera-se conta que era o cheiro que lhe entrava pela janela da casa-de-banho; o cheiro das manhãs de Outono que começam a arrefecer. Aquele cheiro transportava-a no tempo. Para um tempo que não queria recordar, sem também o querer perder.
Quando julgava estar no bom caminho do esquecimento surgia agora este cheiro com o qual sempre convivera sem lhe atribuir qualquer significado que não fosse a constatação da chegada daquela Estação.
Era muito curioso constatar como os cheiros, a luminosidade de certos períodos do dia, alguns rituais e até algumas músicas tinham a capacidade de mexer profundamente com os seus estados de alma. Acontecimentos esquecidos, enterrados por vezes durante anos, atravessavam-se repentinamente no seu caminho, despertados por coisas simplesmente banais, causando sensações tão profundas, trazendo recordações que não tinha a menor ideia estivessem tão vivas dentro de si. Tudo aquilo a levava a pensar que o Outono passado teria sido o primeiro verdadeiro Outono da sua vida.
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