sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Hoje é dia "não"

Hoje é um mau dia para se estar próximo de mim.
Acordei azeda. Estou intratável. Acho que tenho direito a isso de vez em quando. Não sei muito bem o que é ter direito a alguma coisa, mas hoje também não me importo nada com isso. Não estou para profundidades.
Todos cá em casa podem ter os seus dias e eu tenho que os aguentar, a maior parte das vezes com um sorriso parvo, cara de parva, fazendo-me de parva para que não se viva um inferno. Até os bichos têm os seus, por que raio não hei-de eu de ter os meus que são tão raros?
Em tempos, o Sr. Stilton resolveu ter um amoque. Meteu na cabeça que não correria mais na sua roda e pronto, nada o demoveu. Andei dias a vigiá-lo, a tratá-lo com carinhos de mãe. Vi logo que a coisa não ia acabar bem e não acabou mesmo. Já que não posso desistir da minha roda, deixem-me ao menos reclamar porque tenho que fazer uma penicada de sopa e não me apetece nada. Estou fartinha da maldita sopa. Falta-me a pachorra para os tachos e as panelas, que detesto, o diabo da roupa e a bodega das camas que não lhes ficam atrás. Os brinquedos espalhados e as reclamações de que sou uma chata.
Morro de saudades da minha antiga vida. Só fazia o que queria e quando queria, sem um maldito relógio a tiquetaquear-me aos ouvidos, a chatear com as horas de tratar do almoço, do jantar, das compras e do diabo a sete.
Hoje estou-me nas tintas para andar conciliadora, para me fazer de desentendida e surda (mais do que já sou, valha-me menos esse esforço) e dou azo ao meu azedume. Não deixo passar nada. Não permito tons de crítica, chamadas de atenção, deslizes, sobretudo de quem se senta à sombra da bananeira à espera que as coisas apareçam feitas.
Se não me disserem nada, sobretudo se não me contestarem, a coisa pode escapar, senão vai tudo a eito. Nem preciso abrir a boca, basta-me o olhar, até os cães se encolhem.
Podem alegar o que quiserem; que é porque ando a dormir mal, porque interrompi o trabalho, porque estou cansada, que é a menopausa, a tensão alta, o diabo que os carregue. Vale tudo, desde que me deixem andar hoje ao sabor da minha má disposição.

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