quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Diário de uma louca

Levantei-me e dirigi-me ao quarto. Fui direita à mesa-de-cabeceira, peguei num livro e regressei ao escritório. Coloquei-o na estante e voltei a sentar-me em frente à secretária.
Walser deixou de fazer parte dos meus dias.
Respirei fundo. Abri a página onde sabia poder encontrar uma foto sua. Maximizei-a. Olhei atentamente para o seu rosto que não me fez saltar o coração, nem sequer de raiva, nada, absolutamente nada.
- És um verdadeiro dromedário. Insensível e tarado. Arrumei-te juntamente com o teu Walser.
Fico radiante quando recupero a minha inteligência e saio do estado de demência em que me deixo cair às vezes; quando me esclareço, quando converso comigo e nos entendemos. De imediato me ergo, sacudo tudo, ponho a pose de quem não se magoou nem um bocadinho. Sigo de nariz empinado, com ar de pespeneta, achando-me invencível. Estou reestruturada. Até me esqueço que caí e me esfolei todinha, tal a satisfação que me enche. Quase rebento pelas costuras de vaidade.
Eu sou saudável. Tenho uma mente sã. Incorruptível. Estou feliz comigo, hoje. Metade do caminho foi já percorrido. O restante ficará entregue ao tempo.

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