Nem eu sabia o que me tinha feito. Foi como se tivesse sonhado e ao acordar, esquecesse.
Não sei o que me deu naquele dia. O que desencadeou tudo aquilo. Talvez, lentamente, fosse acontecendo, submergindo, com a agitação de outras correntes, outros ventos.
Vi o medo que me causavam as palavras. As que não têm voz, nem boca, nem olhos, nem rosto e mãos que as acompanhem. Talvez isso me tenha sacudido.
Dei por mim na defensiva, lembrando-me um animal assustado, habituado a maus-tratos, sempre à espera de um gesto agressivo, encolhendo-se ao menor movimento feito na sua direcção, numa atitude de medo e culpa. Temendo o imprevisto, o inimaginável, o injustificado.
Desconheço a profundidade dos ferimentos, a dimensão dos estragos, as consequências.
Conservei o coração sonolento tantos anos que lhes perdi a conta. Batia calmo e compassadamente com a precisão de um relógio, sem desacertos, agitações. Depois aquilo. Que brutalidade. Que violência.
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